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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ESSE MUNDO DE INJUSTIÇA GLOBALIZADA

Injustiça


 



 


 


No livro de José Saramango “Este Mundo de Injustiça Globalizada”, ele narra uma historia acontecida nos arredores de Florença em meados do século XVI, quando um camponês se sentindo injustiçado com o avanço da demarcação das terras de um poderoso senhor dentro de suas terras, fazia com que sua propriedade diminuísse cada vez mais. Cansado de tentar acertar os limites da propriedade do poderoso senhor pelo diálogo, ele se viu obrigado a procurar as barras da justiça, de onde saiu em todas as instancias derrotado. Quem morou em cidade pequena do interior assim como eu, sabia o que havia acontecido pelo tipo de batidas do sino da igreja. Se era um convite para uma missa, um terço ou mesmo se havia morrido alguém na comunidade. Pois bem, voltemos ao livro do José Saramango. O Camponês que se sentia injustiçado, foi até a torre da igreja e fez dobrar os sinos com um convite a um funeral. Toda a comunidade para lá se dirigiu e se espantou ao deparar-se com uma pessoa que não era o tocador de sinos oficial da comunidade e sem nenhum cadáver para ser velado. Ele calmamente convidou a todos para o “funeral da justiça”, pois segundo ele, “a justiça estava morta”.


Saramango supõe no livro, “ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça”.


Um outro dia, um amigo meu, postou no Facebook uma mensagem que me fez refletir no livro de José Saramango mais uma vez. Dizia o meu amigo: “Nunca mexa com a esposa do bode, nunca levante falso a um bode, nunca pense em enganar um bode, nunca traia um bode, nunca mexa com a família do bode, nunca deseje o mal a um bode” e finalizava dizendo: “viva tranquilo, não mexa com o bode”. Nem preciso dizer a quem ele se referia ao tratar como “ o bode”


E quem cuida da esposa, dos filhos, dos negócios e do patrimônio de quem não é bode? Infelizmente, assim como a justiça de uma maneira geral, essas sociedades são formadas por seres humanos, muitas delas vaidosas outras humildes, umas arrogantes outras simpáticas, umas petulantes e outras dignas, umas incompetentes outras competentíssimas, algumas ignorantes outras sábias e assim por diante.


O nosso consolo é saber que acima da justiça humana e da espada daqueles que agem em nome de uma justiça interesseira e desumana, Deus tem feito dobrar os sinos e mostrado a todos que a consciência tranqüila vale mais que alguns milhares de dólares na conta. A dignidade vale mais que um o sorriso de alguém, mais autêntico do que nota de 3 reais, e que a felicidade na eternidade vale mais que qualquer momento feliz na atualidade. Não é temendo e compartilhando injustiças de pessoas falhas como nós que conseguiremos um lugar ao sol. É mais saudável aos olhos de Deus um real ganho honestamente do que milhões às custas das lágrimas e do suor dos inocentes.  Se vivêssemos na época narrada por Saramango, neste exato momento estaríamos implorando por silêncio, tamanho a barulheira do dobrar dos sinos. O que mudou nestes quatrocentos anos?


Pensem nisto.


 


Ivan Alves



ESSE MUNDO DE INJUSTIÇA GLOBALIZADA

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